É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades e em momentos sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que ou se não padeça, ou se não tema: nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela, e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro.
Padre António Vieira (1608-1697)
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