Vendo um toiro que tragava
Torvo leão certa rês
Assim o increpa: Essa triste
Que mal ó ímpio te fez?
As garras em sangue ensopas
Esmeras-te em fazer mal
Manter a vida não podes
Sem que pereça um mortal?
Toma exemplo em mim que pasto
As ervas que os prados tem
E que posso estear meus dias
Sem fazer mal a ninguém...
--Ora o mundo está perdido
Ninguém (responde-lhe o leão)
Vê a tranca nos seus olhos,
É bem certo este rifão
Se para manter a vida
Sou dos viventes algoz
Cumpro à risca uma lei dura
Que a natureza me impôs,
De buscar a subsistência
Temos justa obrigação;
Eu se mato é para manter-me
Logo o que obro é com razão
Mas tu, que de ervas te nutres
Não precisas de fazer mal
Contudo em teus cornos cruentos
Dás fim a tanto mortal.
Reflete qual de nós ambos
Deve o nome de impio ter
Se tu, que matas por gosto
Se eu, que mato para comer.
Para culparmos os outros
Sempre buscamos razão,
Sem vermos que às vezes somos
Pior do que eles são.
1 comentário:
O meu amigo anda virado para a poesia... Está em. Gosteo.
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