sociedade
Menos táxis e mais comboios para combater a poluição
por
Ângela Marques e Rita Carvalho02 Setembro 2006
Tirar táxis da rua, pedir aos condutores que reduzam a velocidade nas auto-estradas e reestruturar a oferta da CP com novas ligações e horários. Para o Governo, é este o caminho para baixar as emissões de dióxido de carbono e cumprir o Protocolo de Quioto com o mínimo de custos. Para a Associação Nacional dos Transportadores em Automóveis Ligeiros, é "tapar o Sol com a peneira". Para a associação ambientalista Quercus "não chega".
Na prática, o Governo quer dar um dia de folga aos taxistas portugueses. No papel, quer diminuir o número de dias de serviço dos táxis. Incluída no Programa Nacional de Alterações Climáticas (cujos efeitos serão estimados em 2010), esta medida poderá, segundo o Executivo, baixar anualmente as emissões em 3900 toneladas de CO2. A esta, o plano junta o aumento da frota destes veículos movidos a gás natural para mais 200, que poderá poupar 200 toneladas de emissões.
Um dia de folga até podia ser uma boa notícia para os taxistas. Mas "se a trabalhar sete dias por semana um táxi não tem rentabilidade, muito menos a trabalhar seis", disse ontem o presidente da ANTRAL, Florêncio Almeida. Contactado pelo DN, Francisco Pereira, responsável da mesma associação, sublinhou um problema mais grave: 90% dos táxis em Portugal são conduzidos por taxistas empresários. E 20% dos 12 mil táxis a circular têm protocolos com centros de saúde e hospitais para o transporte de doentes. "Se forem obrigados a folgar, como é que estes 2400 táxis cumprem o compromisso de levar os doentes a fazer hemodiálise ou fisioterapia?"
A redução da velocidade nas auto-estradas é outra das propostas. O Governo estipulou como meta reduzir as velocidades nestas vias dos actuais 120 para 118 quilómetros por hora. Mas não vai exigir nada. "Não serão feitas alterações ao Código da Estrada", garantiu ao DN fonte do Ministério do Ambiente. O Governo vai apenas "sensibilizar" os cidadãos para a redução da velocidade média de circulação nas auto-estradas.
Para a associação Quercus, as medidas são insuficientes. "No que diz respeito ao sector dos transportes, a conversão para gás da frota de táxis seria preferível, bem como a colocação de portagens à entrada das cidades", diz Francisco Ferreira.
E as portagens nas cidades?
Quando se fala de poluição, fala--se da possibilidade de impedir a entrada de carros particulares nas cidades. No início do ano, em entrevista ao DN, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, dizia que a colocação de portagens à entrada das cidades "é uma competência da autarquia". Mas admitia que o Governo podia "propor nas políticas de qualidade do ar que se estudem sistemas de mobilidade sustentável que passem por várias medidas como esta". Mas o Governo não propôs. Questionado sobre a matéria, o porta-voz do Ministério do Ambiente afirmou que "este plano surgiu da articulação de todos os ministérios e tal medida implica uma outra articulação com os municípios".
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